"Sou muito brincalhão”. É assim que Gerardo Filho, estudante de técnicas de enfermagem, explica por que fez o teste de gravidez com urina que acabou revelando um câncer espalhado pelo pulmão, peito e crânio do jovem. A família do rapaz de 18 anos começou uma campanha de doação para custear cirurgia e tratamento com especialistas em São Paulo.
O teste aconteceu em fevereiro deste ano, depois de Gerardinho, como é conhecido, ter procurado atendimento médico para acabar com algumas dores nas costas e, com a piora dos sintomas, ter expelido sangue pela boca. De acordo com o rapaz, os médicos acreditavam que Gerardinho estava, na verdade, com uma tuberculose. Mas antes mesmo de realizar exame para atestar a doença, o jovem resolveu fazer a brincadeira que culminou em um diagnóstico de câncer do mediastino. Um tumor de células germinativas, cariocarcinoma.
Mãe, Lígia Bezerra, e filho, Gerardo Filho. A família lançou campanha para custear cirurgia contra câncer do garoto. (Foto: Gerardo Filho/Arquivo Pessoal)
Ele conta que ficou assustado com o resultado positivo do teste, e, por ser estudante da área de saúde, imaginou que a alteração hormonal poderia significar algo mais sério. “Eu não queria abalar minha mãe e minha avó, que tem 91 anos. Pensei em esconder o teste pra saber primeiro o que poderia ser”, explica. O objeto acabou sendo descoberto pela mãe, que, preocupada de que fosse um diagnóstico de gravidez da namorada de Gerardinho, levou o casal até um posto para refazer os exames. E foi assim que o diagnóstico de câncer surgiu.
Médico patologista do hospital Albert Sabin, Carlos Gustavo Hirth explica que o teste de gravidez detecta as taxas do hormônio beta-HCG, que crescem em pacientes com alguns tipos de câncer. “Tumor de célula germinativa é uma forma de câncer, tem capacidade de gerar tecido placentário, parece com placenta, mas é câncer. O coriocarcinoma é a placenta maligna. Tem como característica a produção do beta-HCG, hormônio placentário, e o teste de gravidez é a dosagem desse hormônio”, detalha.
Nos quatro meses seguintes ao diagnóstico, o jovem passou por quatro ciclos de quimioterapia no Instituto Peter Pan, em Fortaleza. Depois, a família procurou uma segunda opinião, em São Paulo. Lá, segundo conta Lígia Bezerra, mãe de Gerardinho, o médico avaliou que o câncer está em uma espécie de estado “adormecido”, e, portanto, seria a melhor hora para fazer a cirurgia.
Campanha de doação
Para obter fundos, a família divulgou nas redes sociais a campanha e o site #TodosPeloGerardo. Lançada na última semana, a campanha alcançou, até o momento, cerca de R$ 20.800. A família também está promovendo eventos, como chás e feijoadas beneficentes, para ajudar na arrecadação.
O objetivo é angariar um total de R$ 200 mil. O estudante explica que o orçamento apenas para o procedimento cirúrgico é R$ 98 mil, e a equipe médica custa cerca de R$ 40 mil. Esses valores não contemplam medicações, exames complementares e eventuais complicações durante a internação hospitalar, além de passagens aéreas, inclusive, para viagens de reavaliações médicas em São Paulo.
Os clubes de futebol mais tradicionais do estado, Fortaleza e Ceará, também se mobilizaram em prol da campanha e divulgaram nas redes sociais pedidos de doação a Gerardo.
Risco e esperança
O procedimento, considerado de alto risco, é para retirar as lesões dos tumores no pulmão e peito. Após a recuperação, o rapaz ainda vai precisar passar por radioterapia para eliminar o câncer do crânio.
Questionada sobre a alternativa da família, caso a campanha não alcance o valor estimado, Lígia diz que não há outra possibilidade. "Não tem próximo passo, tem que ser esse. A gente vai ter que se virar pra fazer lá, porque eles deram confiança na cura. A gente não quer sobrevida, a gente quer vida".
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