Crianças são assassinadas a bala em escola de Goiás e deixam país em luto; atirador disse que sofria 'bullying' na escola

Goiânia — Três cenários diferentes e uma mesma tragédia envolvendo crianças e adolescentes. Columbine (EUA), Realengo (Rio de Janeiro) e, desta vez, Conjunto Riviera, um bairro de classe média da capital de Goiás. Às 11h50 de ontem, um estudante de 14 anos, que se disse inspirado nos atentados norte-americano e fluminense, tirou uma pistola .40 da mochila e disparou 11 tiros contra os colegas do Colégio Goyases. João Vitor Gomes e João Pedro Calembo, ambos com 14 anos, morreram dentro da sala de aula. Quatro outros alunos ficaram feridos — um deles, uma menina que, até a noite de ontem, permanecia em estado grave no Hospital de Urgências de Goiânia.

A arma usada no crime, de acordo com a polícia, pertence à mãe do atirador, que é policial militar. O delegado Luiz Gonzaga Júnior, da Delegacia de Repressão e Apuração de Atos Infracionais (DPAI), responsável pelo caso, conta que o próprio aluno narrou passo a passo do ataque. “Ele se inspirou em duas tragédias. No Colégio Columbia (1999) e no colégio de Realengo (2011), aqui no Brasil. Inspirado nesses casos, ele confessou ter a vontade de matar um colega, que ele diz que fazia bullying. Em seguida, após atirar no primeiro alvo, ele disse que teve vontade de matar mais. Na sala de aula, gritou: ‘Vou matar todos vocês’.”

De acordo com a Polícia Civil, o adolescente pegou a arma da mãe na noite de quinta-feira, que estava guardada no quarto de casal. O pai dele também é policial militar, e o garoto contou em depoimento que não recebeu nenhum treinamento de tiro para executar o ato. Os investigadores descobriram que havia pelo menos seis meses o menino pesquisava sobre armas e ataques na internet. Ele foi apreendido e vai responder por ato infracional análogo ao crime de homicídio.
No momento em que ocorreram os disparos, os estudantes se preparavam para a última aula do dia. No colégio, existem intervalos de cinco minutos entre cada disciplina. Próximo do horário de saída, o garoto efetuou os disparos. L.P.J, de 15 anos, era da mesma turma que o atirador. Ele conta que inicialmente alguns colegas não correram, pois não notaram que se tratavam de tiros. “Todo mundo achou que era bomba, dessas que jogam nas ruas, quando ele começou a atirar. Mas aí ele atingiu o João Pedro, que caiu. Então todo mundo começou a correr desesperado. Tinha 30 alunos dentro da sala, não deu pra sair todo mundo ao mesmo tempo. Eu consegui correr, senão poderia nem estar aqui”, destacou.

Em seu depoimento, o adolescente que efetuou os disparos contou que era chamado de “fedorento” pelos demais, que teriam oferecido desodorante a ele. L.P.J conta que a turma não tinha problemas de relacionamento. “Eu nunca vi ninguém chamando ele dessas coisas. Não tinha nem briga na sala”, ressalta o estudante. De acordo com testemunhas, o jovem foi contido por uma coordenadora da escola quando parou para recarregar a arma.

A funcionária chegou quando ele se preparava para atirar novamente. Ela começou a pedir para ele parar, o estudante apontou a arma para a própria cabeça. Diante dos pedidos para que não fizesse nada, ele desistiu de atirar. Contido por empregados da escola, ele foi levado para a biblioteca, onde ficou até a chegada da polícia.

A entrada da escola foi interditada para a perícia, que começou por volta das 13h e se encerrou às 16h40, quando os corpos foram removidos. As famílias aguardam a liberação dos adolescentes por parte do Instituto Médico Legal para preparar o velório e o enterro. A população da cidade de Goiânia custa a acreditar que esse tipo de tragédia ocorreu tão perto, em uma unidade de ensino que nunca tinha registrado problemas entre a comunidade escolar.


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