O primeiro efeito concreto e imediato da crise política que fulminou Brasília ontem deve ser a paralisação da tramitação das reformas previdenciária e trabalhista no Congresso. O governo tentou, contudo, dar um ar de normalidade ao processo. “As reformas serão votadas porque é uma prioridade do país. A questão é focar na recuperação do Brasil”, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
O peemedebista citou, por exemplo, que a reforma trabalhista está caminhando bem no Senado, com a formação das comissões gerais de debate na casa. “A reforma da Previdência está evoluindo nas suas explicações e no convencimento na Câmara dos Deputados. Portanto, o cronograma das reformas continua e essa questão política vamos discutir”, acrescentou o líder do governo.
No Congresso, como um todo, a percepção é outra. “Não tem a menor condição de um governo como esse, avariado, conduzir as reformas que prejudicam os trabalhadores”, acentuou o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP). As centrais sindicais estão convocando um grande ato para o próximo dia 24, batizado de Ocupa Brasília, para reclamar contra as reformas trabalhista e da Previdência. Questionado se o Solidariedade poderia abandonar a base do governo depois dessa crise, Paulinho foi irônico. “A gente já estava jogando ali, na ponta esquerda.”
O Planalto já contava nos dedos os votos necessários para aprovar as reformas. Em entrevista ao Correio na segunda-feira, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que a Previdência seria colocada para votação apenas quando o governo tivesse segurança para ter os 308 votos necessários à aprovação. De preferência, com uma margem de segurança de 320 ou 330.
Julgamento no TSE
”Isso significa apenas 12 votos a mais que o mínimo necessário. Com todo esse terremoto, é improvável que esses votos não tenham se esvaído”, acredita o professor de ciência política do Insper Carlos Melo. “Amanhã (hoje), o Congresso ainda estará um caos. O fim de semana trará a imprensa fazendo o rescaldo. Se até segunda esse áudio vazar, o Congresso não vota mais nada neste semestre. Só no segundo”, completou.
O tempo, inclusive, corre contra Temer. Criminalistas acreditam que, para o país não sangrar ainda mais em uma longa agonia de impeachment, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderá antecipar e cassar a chapa no julgamento que começará em 6 de junho. “Até para não prejudicar a economia. Se antes a manutenção do presidente era garantia de estabilidade dos indicadores e de aprovação das reformas, isso muda a partir de agora”, acrescentou Melo.
PERMALINK DA FONTE:
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